E se tudo for verdade ela vai morrer e ele não vai ver?
Lá vai a minha arma.
Bateu a porta com força e saiu com pressa em movimentos que faziam a casa tremer.
Havia um buraco no chão da calçada que não viu com a cor da noite. Não pode ser! O cavalo negro alado. Ficou presa no orifício com as mãos para fora e o chão que era frio. E a brisa leve e o chão que era frio. Ela tentou gritar mas havia um esquilo que olhava com olhos de gato. Restos de mentiras que costuramos para dentro atraente. Algodão.
Lá vai direto para o céu. Morrer é leve de apenas um gemido, ai.
Eu não acredito que a conheci. Coloquei a cabeça pela janela e não vi mais o jeans corduroy que costumava contornar a esquina. No fogão, Campbell esquentava maravilhas e fervia. Tão vaidosamente quente.
Sentou-se e começou a escrever uma carta para ela. Lembrou-se da sopa que havia para o jantar e a colocou no prato sem muito cuidado queimando o polegar. E se eu for atrás, será que consigo alcançá-la na plataforma?
Ela é tão estranha e tão dela. Da noite que não cabe no quarto.
Fingiu que sonhou com pessoas iconográficas que carregavam pixels nas mãos, saltando juntas e firmes sobre pequenas poças de água computadorizada deixando escapar corações pela boca.
O carro de bombeiros fechou a rua e removeu o corpo para fora do buraco. Num instante de muito barulho, onomatopéias corriam pela rua e ventavam. E ele não escutou? Rá! Era tarde e os vizinhos olhavam para fora com as luzes apagadas. Vergonha que tenta imitar o que significa.
E ele saltava cada vez mais alto e olhava para a carta que estava tão fria, e para a sua cama e a lua com fibras verticais.
(Publicado originalmente em setembro de 2007.)
Thursday, January 13, 2011
Saturday, January 8, 2011
Esperando chover
No caminhãozinho cheio de barro um pedaço de goiaba e um soldado de plástico. O menino mal andava com o bolso cheio de chumbinho que ele pegou escondido na oficina do avô. Às vezes limpava a goiaba na blusa, às vezes não, conforme o gosto. Ara, se a mãe visse. Era um fim de dia rezado. Já rápido vinha o carro levá-lo, e o acabou que encompassava assistir ao avô trabalhar em silêncio fazendo rodas de carreta. Mas se chovesse era como se colocassem rédeas no acertado das horas e ele tinha até o dia novo na casa dos avós. Inté a chuva passar e o barro secar e criar rastros e rugas no chão, machucando o pé de quem anda descalço, sem ferradura. Zaz no galope da vassoura que Nana procurou a tarde toda. "Estou fazendo desuso, Nana", dizia ele com a boca cheia de goiaba e de boa vontade. Menino não gostava do pai que vinha vindo e, visto que a chuva havia empacado numa nuvem muito sem cumulo, molhou o rosto com água, fazendo uns pingos na blusa e na bermuda. O vô buscou na gaveta um par de roupa velha do ano passado e resmungou "deixa o seu pai te pegar molhado", mascando fumo. E ele virava o corpo pra lá e pra ca, bem moleza. Saiu correndo quando o carro chegou e Nana teve que buscá-lo detrás do pé de jaca fedido e mais gostoso do mundo. Uma catedral de coisas passou na cabeça do menino. Foi arrastando com o chinelinho de couro fazendo barulho e chispando com o chão. Nana sussurrou no ouvido que era só guardar os temores num embrulho que o sonho amaciava. Ele olhou e acenou uma vez com o carro já ligado.
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